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Amor para quem? Um olhar sob gênero

De acordo com Pinaffi (2007), a violência contra a mulher é produto de uma construção histórica, estreitamente, relacionada a categorias de gênero, de classe, raça/etnia e de relações de poder.   No Brasil, a violência contra a mulher tem dados assustadores. Considerando, o cenário histórico-cultural e político da mulher negra, o quadro releva-se ainda pior. 

Segundo as informações apresentadas pelo Mapa da Violência – que focaliza a incidência da questão racial na violência letal do Brasil, tomando como base os registros de mortalidade do Ministério da Saúde – morreram 48% mais mulheres negras do que brancas tanto no conjunto da população adulta quanto jovem. O nordeste é a região com maior índice de morte, e o sul com o menor. 

Hooks (2000) em “Feminism is for everybody: passionate politics” defende o uso do termo “violência patriarcal”, pois o termo “violência doméstica” parece ressaltar apenas a violência do homem contra a mulher, mas há também as práticas abusivas contra crianças e em relações homoafetivas:

Ela ainda aponta que, por muito tempo, o termo “violência doméstica” vem sendo usado com um teor mais “suave”, perpetuando a ideia de que atos violentos praticados dentro dos lares – geralmente por indivíduos mais próximos às vítimas – são mais íntimos e mais aceitáveis do que outras formas de violência:

Após a abolição da escravatura do Brasil, a mulher negra passou a atuar como viga-mestra das famílias e das comunidades negras, arcavam com o sustento moral e com a subsistência dos filhos. Das senzalas aos cortiços, tornou-se “mulher da cama e mesa”, ora servindo a seus parceiros, ora a seus patrões em relações abusivas.  No panorama contemporâneo, o número de mulheres negras nas universidades, na mídia ou em cargos de chefia ainda é bem pequeno, considerando que a maioria da população brasileira é mulher e negra.

Pereira (2013) destaca em seu trabalho “Tramas e Dramas de Gênero e de Cor: a violência doméstica e familiar contra as mulheres negras” que mulheres negras não só se casam mais tarde, mas também apresentam maior índice de celibato e demoram mais até chegar a um relacionamento estável. 

Além de enfrentarem situações cotidianas de opressão, esse cenário pouco se altera quando estão em uma relação afetiva. Embora muitos acreditem que não exista racismo nesses casos, Pereira (2013) afirma que, muito pelo contrário, as dinâmicas racializadas podem até mesmo ser reforçadas.

Não se pode negar a existência de um padrão de beleza almejado pela sociedade em que a mulher negra não se encaixa. Há quem diga relações afetivas envolvam meramente as preferências individuais, porém, parecem se esquecer de que abrangem muito mais do que o gosto particular de cada um, mas aspectos culturais, sociais e políticos.

A mulher negra não somente é preterida pelo homem branco, como também pelo homem negro. Alves (2011) explica em seu livro “Virou regra?” que essa escolha seria apoiada no desejo de ascensão social, na busca não somente de embranquecimento da família, mas também de status, falta de autoestima e representatividade, construídos socialmente e midiaticamente em torno da mulher branca.  

Supostamente boa para o sexo e para as relações superficiais, quem nunca ouviu a seguinte frase: “branca para casar, mulata para fornicar, negra para trabalhar”? Espaços de encontro, de compartilhamento de vivências, de empoderamento da mulher negra ainda são limitados. Discussões e estudos acerca da violência contra as mulheres negras são apenas um dos primeiros passos para que nossas vozes deixem de ser negadas, omitidas, esquecidas à luz do racismo, machismo e sexismo. 

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